Vida independente e sexualidade em pessoas com autismo

O que é sexualidade?

De acordo com a Organização Mundial de saúde (OMS, 2006), a sexualidade é um aspecto central do ser humano, presente em toda a sua vida. Abrange o sexo, a identidade e os papéis sexuais de gênero, o erotismo, o prazer, a intimidade, a reprodução e a orientação sexual. [A sexualidade] se vive e se expressa através de pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas e papéis sociais. Suas quatro principais características são: o erotismo, a ligação emocional, a reprodução e o desejo genético.

1. O erotismo é a capacidade de sentir o desejo e o prazer na relação sexual.

2. A ligação emocional é a capacidade de desenvolver e estabelecer inter-relações significativas.

3. A reprodução envolve uma atitude de maternidade e paternidade de ter filhos e filhas.

4. O desejo genético refere-se ao grau em que cada um se identifica dentro das características físicas femininas ou masculinas, mas também com a posição pessoal no que diz respeito à orientação sexual.

Pode-se acrescentar que a sexualidade é o conjunto de condições anatômicas, fisiológicas e psico-afetivas que caracterizam cada sexo. É também o conjunto de fenômenos emocionais de conduta e prática associados à busca de prazer sexual. A sexualidade humana representa um grupo de comportamentos que dizem respeito à satisfação da necessidade e desejo sexual. Geralmente, o comportamento sexual é dirigido à reprodução e à troca de laços sociais. A gama de comportamentos sociais tem a ver com a cultura e os valores de uma sociedade, mas a sua expressão está relacionada com a necessidade e capacidade de um indivíduo em exercê-la num determinado contexto. Na vida quotidiana, a sexualidade nos coloca em nosso papel genérico como homens e mulheres, e as relações com as pessoas o seu valor é muito importante para nosso equilíbrio emocional.

Quanto à sexualidade no caso de autismo?

A deficiência de uma pessoa pode ter uma origem biológica ou física, pode ser temporária ou permanente e sua manifestação poderia limitar o sujeito em suas habilidades motoras, sensoriais, intelectuais e sociais, por isso podemos dizer que a inabilidade de uma pessoa pode afetar a expressão de sua sexualidade.

No caso do autismo, considerado como [uma] inabilidade especialmente limitada no seu desempenho sócio comunicativo, que impacto pode ocorrer em relação à sexualidade? Ao utilizar como referência as características da sexualidade mencionadas anteriormente, é questionável se o erotismo, a ligação emocional, a reprodução e o desejo genético são afetados de alguma forma em pessoas com autismo.

Algumas considerações sobre a sexualidade em pessoas com autismo

a) Conhecimento básico e educação inicial

Em primeiro lugar, é necessário abordar a questão do ponto de vista do desenvolvimento da criança, uma vez que a sexualidade deve ser considerada desde a primeira infância. A primeira questão que surge é: como o(a) menino(a) no espectro autista desenvolve o que são conhecimentos básicos relacionados  às características de cada gênero, bem como contribui à formação de sua identidade e sua futura orientação psicossexual?

No desenvolvimento de sua futura sexualidade pode ser muito útil ensinar a criança, num processo de pequenos passos, as diferentes partes do seu corpo, do geral ao específico, de forma que possa ser identificado nessas características de seu corpo e, gradualmente, a qual gênero pertence.

Pontos que precisam ser revistos:

  • A criança identifica seus olhos, nariz, boca, orelhas, braços, mãos e pernas, etc., seja apontando-os ou verbalmente?
  • De maneira mais específica, identifica seus lábios, língua, tórax (seios, mamilos), glúteos (nádegas, ânus), pênis, testículos, vagina (clitóris).
  • Finalmente, identifica as diferenças entre um homem e uma mulher?

b) a menstruação nas mulheres

O próximo item a ser considerado é a menstruação na futura mulher. A este respeito, a recomendação seria começar a preparar a menina (aproximadamente aos nove anos) para o uso do absorvente (pt-PT penso higiénico). Talvez num princípio as limitações da própria compreensão do espectro do autismo [é] explicar o advento da regra, mas ao longo do tempo e com o apoio de imagens ou livros sobre o assunto, é possível alcançar uma compreensão da grande importância da menstruação e sua relação com o tema da reprodução.

Pode ser útil no trato de sua menstruação ensinar [a menina] os seguintes conceitos por meio de diferentes comportamentos que estão envolvidos com cada conceito.

Conceitos e comportamentos que devem ser revistos:

  • Expor quando a menstruação se manifesta e por quê.
  • Explicar o conceito de desconforto ou dor associada à menstruação.
  • Conhecer alguns remédios ou o uso de alguns medicamentos para aliviar o incômodo do período menstrual.
  • Transmitir a necessidade de higiene cuidadosa que deve ter a mulher com seus genitais, em especial durante os dias de menstruação.
  • Ensinar o uso correto do absorvente e como comprá-lo numa loja, como usá-lo, quando substituir e como e onde descartá-lo.
  • Familiarizar a menina com o uso de um calendário que identifica o seu ciclo menstrual, a fim de proporcionar consequências adequadas.
  • Levar a menina/jovem à(ao) ginecologista rotineiramente e sempre que necessário.
  • Explique o significado e as implicações da menstruação na sexualidade de uma mulher.

c) Masturbação

No caso tanto do homem como da mulher, o tema da masturbação pode ser motivo de preocupação para os pais.

As pessoas no espectro do autismo tendem a apresentar uma manipulação dos genitais com alguma antecedência [em relação às pessoas neurotípicas], pois, devido à sua sensorialidade ampliada e à sua ansiedade, crianças descobrem cedo as partes erógenas do corpo e recorrem à estimulação como uma fonte de prazer que atenua a ansiedade ou que gera o prazer num ambiente privado de estímulos ou saturado de demandas que são incompreensíveis.

Possivelmente, neste aspecto merecem as seguintes considerações:

  • A auto estimulação dos genitais numa criança no espectro do autismo deve ser considerada um problema comportamental mais que uma masturbação em si. Esta última pode ser vista como uma manifestação mais ligada com a adolescência.
  • A razão acima de que a auto estimulação dos genitais pode relacionar-se com situações de ansiedade, ambientes de ócio ou carentes de estímulos positivos e, finalmente, com uma falta de educação das condutas corretas que o(a) menino(a) tem que aprender. A sugestão é que a masturbação seja tratada de forma proativa com uma abordagem comportamental, como sugerido pela ABA (Applied Behaviour Analysis). Para mais informações sobre a abordagem comportamental, você pode consultar em http://www.abaresources.com/
  • O importante é ensinar a pessoa com autismo o que é apropriado em público e o que pode ser feito em privado. Geralmente, as medidas relacionadas com o tratamento desta questão dependem da formação prévia e do bom controle comportamental que se foi alcançado antes da adolescência.

d) Abuso ou estupro

Uma questão de grande importância em relação à sexualidade é a prevenção ao abuso ou ao coito forçado em pessoas com autismo. A este respeito, alguns ensinamentos que transmitem às pessoas no espectro do autismo são mostrados abaixo.

Lições para evitar abusos ou estupro

  • Contato com os outros: ensinar-lhes com quais pessoas eles podem estabelecer certo contato físico, que tipo de contato é permitido e qual não é.
  • Limites e relações: os contatos, a conversa e a confiança que são aceitáveis em diversos tipos de relacionamento.
  • Distância social: como dirigir-se aos demais e como os demais devem dirigir-se a você.
  • Consequências do contato incorreto: o que pode acontecer se alguém o toca de outra forma incorreta.
  • Programa de segurança: o que fazer quando alguém o toca de forma incorreta.
  • Consequências do encontro sexual. Isto inclui as consequências do encontro sexual e a reprodução, bem como os métodos anticoncepcionais e a contracepção (pt-PT: contraceção).
  • Sexo seguro: ensinar o sexo seguro com o uso do preservativo, não só como uma proteção para a saúde, mas como um método para evitar a gravidez.

e) Busca e vida de casal

Por fim, talvez a questão mais complexa de abordar e explicar sobre a sexualidade e o autismo é a busca por um(a) parceiro(a), paquera (ptPT: flerte ou curte), namoro e casamento. Esses temas têm de considerar o grau intelectual e de discernimento da pessoa com autismo, ou seja, deve ter em mente o quão uma pessoa no espectro do autismo tem sido educada com programas de habilidades sociais que permitam desenvolver uma consciência social suficiente para lidar com esta difícil área das relações sociais, que implica sensibilidade afetiva, perspectiva do(a) parceiro(a) sexual, grau de compromisso e responsabilidade no encontro sexual.

IMPORTANTE

  • Falar de vida independente em relação à sexualidade no autismo envolve uma meta muito desejável em termos de direitos da pessoa. No entanto, a pergunta óbvia de qualquer pai ou mãe é o quanto o seu/sua filho/filha com autismo poderá realizar-se de forma auto suficiente, responsável e consciente em relação à complexidade de regras e estratégias que envolvem a vida a dois,  a probabilidade de ter filhos e criá-los, tudo sem deixar de lado as implicações genéticas.
  • A questão da sexualidade se estende e se complica na medida em que é necessário ponderar a conveniência de procedimentos contraceptivos transitórios ou permanentes, a depender de cada caso. Será necessário também supor que, muito provavelmente, a limitação da capacidade social e de autorregulação do jovem com autismo serão fatores que não lhe permitirão expressar sua sexualidade de forma convencional.
  • As respostas a todas estas perguntas não estão escritas em qualquer manual, mas levam em consideração cada caso em particular, a fim de desenvolver as medidas de orientação que levam à melhor decisão possível, sempre com respeito pelos direitos da pessoa com autismo e dando-lhe a oportunidade de uma expressão de sua sexualidade tanto quanto razoável, em conformidade com um determinado contexto social.

Tradução e adaptação por este blogue.

CLIKISALUD.NET. Vida independiente y sexualidad en las personas con autismo. Disponível em http://www.clikisalud.net/temas-autismo/vida-independiente-y-sexualidad-en-las-personas-con-autismo/ (acesso em 23 de novembro de 2014)

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